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Safety Window: Conheça a trajetória do Cmte. Ruas e seus trabalhos em torno da Radiação Ionizante


Comandante Ruas na fábrica da Boeing em Seattle.
Cmte. Ruas na fábrica da Boeing para realizar o traslado de um 737 da Gol.

Mais de 50 anos de aviação e muitas histórias, contribuições e participações nas áreas operacional e de segurança de voo. Amilton Camillo Ruas, o Cmte. Ruas, é considerado uma referência, tanto por seu profissionalismo e competência na carreira de aeronauta como na pesquisa e publicação de estudos em diferentes áreas ligadas ao setor.

Ele iniciou a sua trajetória na aviação em 1969, no aeroclube de Passo Fundo (RS). Desde então, foram dez anos em táxi aéreo e aviação executiva, 23 como piloto na Transbrasil e 17 na Gol Linhas Aéreas.


A sua contribuição acadêmica no âmbito da radiação ionizante teve início em 2014, quando teve acesso a documentos da IFALPA (International Federation of Air Line Pilots' Associations) sobre o assunto. Ele entendeu naquele momento a importância de divulgar o tema entre os aeronautas e passou a trabalhar nessa conscientização.


Ouça a entrevista:


Confira abaixo a entrevista na íntegra, a primeira do nosso novo canal “Safety Window”, e conheça mais da carreira do Cmte. Ruas, seu trabalho acadêmico e planos para os próximos anos:


ASAGOL – Já são mais de 50 anos de carreira, como foi o início de sua trajetória na aviação até os dias atuais?


Cmte. Ruas - Comecei em 1969, quando ingressei em um aeroclube de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Eu tinha cerca de 16 anos na época e, depois de um tempo nas aulas, tive a oportunidade de começar a trabalhar na área. Foi ótimo, pois precisava ter uma renda e pude unir o útil, que era ter um salário, com o agradável, a minha vontade de voar.

Eu passei por empresas de táxi aéreo e aviação executiva nesses primeiros anos e, em 1979, ingressei na Transbrasil. Foram 23 anos de empresa, a deixei apenas em 2001 para entrar na TAM Linhas Aéreas. No ano seguinte, aceitei o convite para ser piloto na Gol Linhas Aéreas e estou na companhia há 17 anos.


Estou próximo de me aposentar e encerrar esse ciclo, uma história que possui altos e baixos, como toda a profissão, mas com um saldo positivo.


ASAGOL – Além da aviação, você também contribuiu para as áreas de Safety, operacional e inovação. Como foi esse trabalho?


Cmte. Ruas – Eu sempre fui muito ligado a essas áreas. Fui chefe de engenharia de operações na Transbrasil e, junto à minha equipe, criamos as primeiras restrições operacionais para aeroportos brasileiros, que contribuíram muito para a segurança de voo.

Além disso, fui um dos primeiros brasileiros a voar o Boeing 767, um divisor de águas na aviação por ser o primeiro com a tecnologia “glass cockpit”. Em 1983 era uma aeronave muito mais tecnológica que qualquer outra. Fui da primeira turma do modelo, como primeiro oficial.


Também participei dos esforços para a homologação do Boeing 737-300 na Ponte Aérea SDU-CGH.


ASAGOL - Como surgiu o interesse em contribuir para a aviação com estudos técnicos na área de radiação ionizante?


Cmte. Ruas - Eu tive acesso a um estudo sobre radiação ionizante, produzido pela IFALPA em 2014. Achei impressionante, eu voava há mais de 40 anos e não sabia nada sobre esse assunto. Decidi me aprofundar, estudar esse conteúdo e tentar contribuir de alguma forma.

O material já era importantíssimo na época, mas pouco divulgado. Eu decidi motivar as associações e o sindicato a participarem desse esforço de divulgação.


O meu livro, “O Tripulante de Aeronaves e a Radiação Ionizante” é uma compilação e análise de dados e estudos internacionais sobre o tema. Ele foi lançado no início de 2017 com o único objetivo de esclarecer e contribuir para termos no Brasil uma regulamentação de proteção radiológica do aeronauta.


ASAGOL – Você se considera uma referência no assunto radiação ionizante?


Cmte. Ruas – Uma das referências, temos diversos outros estudiosos e especialistas renomados atuando nessa área. Podemos citar como exemplos o Cmte. Túlio Rodrigues e o Prof. Dr. Cláudio Antônio Federico (DCTA/IEAv), coordenador do Laboratório de Dosimetria Aeroespacial e maior autoridade nesse assunto.


Eu procuro contribuir na divulgação e no esclarecimento do aeronauta e, consequentemente, sou identificado como um dos pesquisadores nesse tema.


ASAGOL – Como você vê o interesse dos aeronautas e estudiosos ao tema radiação ionizante?


Cmte. Ruas – O assunto está forte, principalmente no meio acadêmico. Recebo muitos e-mails e ligações de graduandos e mestrandos de instituições de ensino reconhecidas, buscando mais informações sobre a radiação ionizante, algo que é muito gratificante.

A área médica também tem grande interesse nos estudos da exposição do tripulante à radiação ionizante. Hoje é fato inegável que a exposição à radiação ionizante aumenta o risco de desenvolver cânceres, cataratas e outros efeitos somáticos genéticos.


ASAGOL - Quais são os seus projetos futuros em relação a artigos, livros, participações em eventos e demais iniciativas?


Cmte. Ruas – Planejo continuar esse trabalho de divulgação, pois, se pararmos, o assunto cairá no esquecimento. Em junho, irei a um evento chamado USAPLA, na sede da Associação dos Tripulantes da LATAM Brasil (ATL), que reunirá associações e sindicatos ligados à empresa. Farei uma apresentação sobre a radiação ionizante aos representantes de sete países da América Latina.


Farei o lançamento da versão virtual do meu livro “O Tripulante de Aeronaves e a Radiação Ionizante”, em julho. Também queremos disponibilizar a versão em inglês até o final do ano.


Possuo ainda três livros a serem publicados nos próximos dois anos, um a cada seis meses. Faltam apenas as etapas normais antes do lançamento, como atualizar, revisar e negociar com a gráfica. Em 2020, lançaremos dois livros, um ligado ao Safety e o outro à radiação.


ASAGOL - Em seu livro, publicado há dois anos, é mencionado que não existia obrigatoriedade de monitoramento da exposição do tripulante à radiação ionizante. Como está o cenário atual?


Cmte. Ruas - Em 2018, foi criado um grupo de trabalho na CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) para estudar uma regulamentação de proteção radiológica do aeronauta brasileiro. Com a participação da ABRAPAC, ASAGOL, ATL, SNA, ANAC, DCTA/IEAv, ABEAR e ACR Consultoria Aeronáutica.


O trabalho foi concluído em outubro de 2018 e recomendou o reconhecimento da exposição à radiação ionizante do aeronauta brasileiro, resguardando o direito à informação e ao monitoramento da dose efetiva por aplicativo.


Estamos aguardando para 2019 uma nova publicação da CNEN, com uma posição regulatória específica para o aeronauta.


ASAGOL - Qual o cenário ideal para a regulamentação do controle da exposição à radiação ionizante?


Cmte. Ruas- O ideal é ter como base as normas e parâmetros europeus, que são os mais avançados atualmente. Não seria necessária uma adaptação, pois não temos nada desse tipo ainda no Brasil.


O americano reconhece essa exposição, possui diversos documentos, estudos, análises, mas é o tripulante quem precisa calcular, não a empresa. Na Europa esse controle é obrigatório, a navegação do tripulante é disponibilizada já com o índice de exposição dele nesse trajeto.


Embora estejamos distantes do limite internacional de exposição à radiação ionizante, proposto pela ICRP (International Commission on Radiological Protection) e adotado na maioria dos países, é importante que se faça também esse monitoramento no Brasil, resguardando assim um direito do tripulante à informação.


ASAGOL - O seu livro apresenta as estimativas de exposição do tripulante à radiação ionizante. Quais problemas de saúde poderiam ser gerados em caso de uma exposição alta?


Cmte. Ruas – A exposição à radiação ionizante aumenta levemente o risco de dano ao DNA e gera radicais livres. Esse efeito pode ocasionar riscos para a nossa saúde e para os nossos descendentes, que herdam a nossa carga genética. Caso o casal seja tripulante, o risco aumenta, pois é a somatória da exposição acumulada pelos pais.


Entre os riscos, temos um ligeiro aumento na probabilidade de desenvolver um câncer fatal ao longo da vida, além de cataratas e distúrbios cardiovasculares.


ASAGOL – Falando na tripulante gestante, quais são os riscos que ela e o feto correm?


Cmte. Ruas –O feto, quando exposto à radiação ainda no útero materno, tem um risco maior de má formação genética e pode ocasionar também o aborto.


Por essa razão, a regulamentação RBAC 67.73, item “D”, prevê que o CMA seja cancelado automaticamente assim que descoberta a gravidez.


A norma N.N- 3.01:2014 Diretrizes Básicas de Proteção Radiológica da CNEN estabelece que, uma vez constatada a gravidez, deve-se manter a exposição inferior a 1 mSv durante toda a gravidez.


A IFALPA publicou um estudo chamado “Pregnancy and Flying”, em 2018, com diversos fatores que afetam a mãe e o feto ainda no útero materno.


Eu recomendo essa leitura para entender melhor os efeitos em gestantes.


‘O Tripulante de Aeronaves e a Radiação Ionizante’


O livro do Cmte. Ruas, “O Tripulante de Aeronaves e a Radiação Ionizante” tem o lançamento de sua versão digital previsto para o fim deste ano. O material contará com novas revisões e atualizações, ocorridas desde o seu lançamento, no início de 2017.


A versão impressa do livro pode ser adquirida na sede da ASAGOL. Entre em contato com o nosso setor de benefícios para mais informações.


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