Iniciativa da ABRAPAC sob a coordenação do Comte. Paulo Licati, o estudo contou com as participações da Prof. Dra. Frida Fischer e da Dra. Daniela Wey, ambas da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, além do Prof. Dr. Luiz Menna-Barreto da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo e do Comte. Túlio Rodrigues, Presidente da Associação dos Aeronautas da Gol (ASAGOL) e Pós-Doutor pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo.
A apresentação dos resultados da pesquisa ocorreu no segundo dia da IV Jornada Latino Americana de Fatores Humanos e Segurança Operacional (evento promovido pelo CENIPA) e ficou a cargo do Comte. Tulio, que revelou dados inéditos e de grande relevância para colaborar com a Segurança de Voo no Brasil.
A metodologia utilizada na pesquisa foi baseada no Doc. 9966 da OACI e incluiu um questionário com perguntas a respeito dos ciclos de vigília/sono dos pilotos nas últimas 72 horas, entre outros fatores. As respostas revelaram que a maioria dos pilotos relatou fadiga em voo de cruzeiro, durante a descida e durante a aproximação para pouso. Dentre os principais sintomas fisiológicos foram ressaltados o bocejo e a dificuldade dos pilotos de manterem seus olhos abertos.
Um dos pontos principais da apresentação foi a análise estatística efetuada pelo Comte. Túlio que propiciou estimar a hora provável da fadiga em função da hora do início da vigília na população estudada. Outra descoberta que surpreendeu os pesquisadores foi a concentração dos relatos de fadiga fora dos horários da madrugada. Cerca de 49% dos respondentes manifestaram a sensação de fadiga por volta das dez horas da manhã, com aproximadamente 43% dos relatos concentrados por volta das três horas da manhã. Para o primeiro grupo (fadiga relatada majoritariamente por volta das 10 horas) os pesquisadores observaram uma vigília média de apenas 7 horas. Esse valor surpreendentemente baixo foi interpretado como decorrência do débito crônico de sono da população estudada (por volta de 7 horas e meia) e, provavelmente, de um cenário de fadiga acumulada.
No intuito de validar quantitativamente os relatos subjetivos de fadiga, os pesquisadores utilizaram o modelo bio-matemático SAFTE (Sleep, Activity, Fatigue and Task Effectiveness) implementado no software FAST (Fatigue Avoidance Scheduling Tool). Nessa abordagem, informações sobre as jornadas de trabalho e oportunidades de sono nas últimas 72 horas que antecederam ao relato de fadiga foram inseridas no programa que calculou, entre outros fatores, a efetividade dos pilotos no momento do relato. Esse parâmetro de efetividade está relacionado com a capacidade de performance do indivíduo e é inversamente proporcional ao tempo de resposta ao PVT (Psychomotor Vigilance Task).
De acordo com a análise estatística apresentada pelo Comte. Tulio, a efetividade dos pilotos extraída do FAST apresentou comportamento normal com um valor médio de 73,8% sendo que, conforme apontado pelo autor do modelo bio-matemático (Dr. Steven Hursh), o risco nas operações aumenta em até 86% quando esse parâmetro de efetividade fica abaixo de 77%.
Continuidade dos estudos:
Os resultados apresentados em Brasília durante o evento promovido pelo CENIPA reforçam a vantagem de colaborações multidisciplinares que possam identificar perigos no modal aéreo brasileiro, abrindo espaço para um futuro aprofundamento da pesquisa com a participação junto à ABRAPAC e à ASAGOL do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) e da Associação dos Tripulantes da TAM (ATT), o que permitirá a ampliação do banco de dados disponível e análises ainda mais detalhadas visando a mitigação dos riscos da fadiga e o aumento na segurança operacional.
Agradecimentos:
• À Associação Brasileira de Pilotos da Aviação Civil (ABRAPAC) • Aos pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) • Ao CENIPA • À Azul Linhas Aéreas • Ao Comitê Nacional de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CNPAA) • À Comissão Nacional de Fadiga Humana (CNFH) e • A todos os pilotos que participaram da pesquisa
A íntegra da apresentação realizada pela Comte. Tulio na IV Jornada Latino Americana de Fatores Humanos e Segurança Operacional encontra-se disponível para download no endereço a seguir:
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